segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Especial “Augusto Martins Pereira (1885-1960) – Apogeu das Fábricas Alba (da década de 30 à década de 60)

No fim da década de trinta, muda as suas precárias e reduzidas instalações do Largo Conselheiro Sousa e Melo, no centro da Vila, para uma zona periférica, na Cavada Nova, ao Sul de Albergaria-a-Velha, onde ainda hoje se encontram.

Passado pouco tempo, numa área total de 41.000 m2 estão cobertos 18.000 m2, onde se ergue, com um "circuito de produção" (layout) digno de registo para a época, uma das mais completas fundições de ferro fundido cinzento do país, que chegou a atingir produções diárias de 20 toneladas e de cerca de 4.000 toneladas anuais, sempre utilizando a fusão por "cubilote de ar frio", e a dar trabalho a 600 colaboradores.

Tornaram-se preferidos, em todo o país e nas então chamadas Províncias Ultramarinas inúmeros tipos de produtos que constituíam o seu catálogo, tais como bancos de jardim, colunas para iluminação pública, fogões domésticos (a lenha e a carvão), panelas de três pés, ferros de engomar a carvão, postos de incêndio e rega, marcos de sinalização luminosa, autoclismos, caixas e tampas de saneamento, esmagadores e prensas para lagar, sifões para esgotos, pesos para balanças, acessórios para instalações eléctricas (cabos armados), acessórios para charruas, para noras e para forjas, bocas de incêndio de parede e do chão, clarabóias, roldanas, bebedouros de jacto e fontanários, caixas de correio, válvulas chupadoras e bocas de rega, válvulas de corrediça (desde 50 a 350 mm de diâmetro nominal), fogareiros a gás, etc.etc.

Paralelamente, por exigências comerciais ou solicitação de muitos clientes que não encontravam no mercado nacional quem lhes desse resposta em qualidade e em tempo, foi desenvolvido o sector de "Não Ferrosos" com duas secções "Alumínios" e "Ligas de Cobre-Latões e Bronzes", utilizando a fusão em cadinhos aquecidos a carvão (coque) ou gasóleo.

Quem, dos mais velhos, não tem ainda no seu trem de cozinha peças de loiça de alumínio referenciadas no fundo com a marca "Alba"?

É natural que muitos não saibam que os corpos, em latão, de milhares de contadores de água que foram instalados no país nos anos cinquenta e sessenta, saíram de Albergaria-a-Velha.

O "Senhor Pereira" como ainda hoje é recordado por alguns dos seus colaboradores dos anos trinta, era exigente na qualidade e ensinava quem mostrava gosto pela profissão, sugerindo e dinamizando a busca de soluções técnicas convenientes, mais eficazes e mais económicas, soluções que deixavam a concorrência sem resposta.

Esta sua faceta transmitiu-a a muitos dos colaboradores que se transformaram em técnicos de grande nível, quer na concepção das ferramentas de moldação-chapas-moldes, caixas de machos, cárceas, etc - quer na sua execução em em madeira ou metal quer na qualidade das moldações e nas engenhosas soluções que estas, por vezes, exigiam.

O pessoal da Alba adquiriu prestígio e muitos debandaram outras paragens em particular Angola e Moçambique onde desenvolveram actividade em especial nas fundições da Companhia dos Caminhos de Ferro de Moçambique.

Em Angola, na cidade de Benguela, na fundição da "Lupral" (Sociedade da Lusalite e da Previdente) todo o pessoal de chefia era oriundo da Alba que também forneceu todas as ferramentas e toda a tecnologia e, com aquela empresa, estabeleceu um acordo de colaboração que garantia o apoio a toda a actividade relacionada com a fundição, levando a contactos regulares do pessoal em deslocações a Benguela e a Albergaria-a-Velha.

Deve-se referir a conquista de um dos seus maiores clientes, a "Lusalite", que ajudou a Alba a tranformar-se, ao tempo, no maior fabricante nacional de material complementar - uniões, válvulas, etc - para as linhas das redes distribuidoras de água domiciliária o que a projectou, anos mais tarde, para fornecer a outros clientes, acessórios como tês, curvas, válvulas de corrediça e de retenção, com diâmetros nominais de 600, 750 e ... 1000 e 1250 mm!

Foi este espírito de... sempre melhor e mais difícil,... que levou a Alba a ser uma das primeiras fundições portuguesas a produzir peças moldadas pelo método de "Carapaça"- (Shell Molding), e a primeira a produzir carcaças de alumínio para motores eléctricos, pelo processo de "vazamento em coquilha por gravidade".

A capacidade de resposta e a qualidade dos seus produtos (ficou famosa entre os fundidores a qualidade da "pele" das peças em ferro fundido) levou a que a Alba passasse a trabalhar para várias indústrias como: papeleira (pasta e papel), química, transportes ferroviários, motores eléctricos, bombas de rega, motores para motociclos, material de guerra, moageira, construção e reparação naval e outras.

O Senhor Pereira para os mais antigos, o Senhor Martins Pereira para os mais novos, o Senhor Comendador Martins Pereira para os seus concidadãos e amigos, durante quase 40 anos com o apoio dos seus filhos (Américo e Albérico), do neto que conheceu (António Augusto) e de muitos dedicados e competentes colaboradores, transformou uma fundição que se iniciou num modesto barracão, numa das mais prestigiadas fundições portuguesas.

Fonte: Eng. José António Piedade Laranjeira em Revista Fundição (Associação Portuguesa de Fundição) nº 2006 [republicado no Jornal de Albergaria de 19.05.1998] (adaptado)

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