
Passado pouco tempo, numa área total de 41.000 m2 estão cobertos 18.000 m2, onde se ergue, com um "circuito de produção" (layout) digno de registo para a época, uma das mais completas fundições de ferro fundido cinzento do país, que chegou a atingir produções diárias de 20 toneladas e de cerca de 4.000 toneladas anuais, sempre utilizando a fusão por "cubilote de ar frio", e a dar trabalho a 600 colaboradores.
Tornaram-se preferidos, em todo o país e nas então chamadas Províncias Ultramarinas inúmeros tipos de produtos que constituíam o seu catálogo, tais como bancos de jardim, colunas para iluminação pública, fogões domésticos (a lenha e a carvão), panelas de três pés, ferros de engomar a carvão, postos de incêndio e rega, marcos de sinalização luminosa, autoclismos, caixas e tampas de saneamento, esmagadores e prensas para lagar, sifões para esgotos, pesos para balanças, acessórios para instalações eléctricas (cabos armados), acessórios para charruas, para noras e para forjas, bocas de incêndio de parede e do chão, clarabóias, roldanas, bebedouros de jacto e fontanários, caixas de correio, válvulas chupadoras e bocas de rega, válvulas de corrediça (desde 50 a 350 mm de diâmetro nominal), fogareiros a gás, etc.etc.
Paralelamente, por exigências comerciais ou solicitação de muitos clientes que não encontravam no mercado nacional quem lhes desse resposta em qualidade e em tempo, foi desenvolvido o sector de "Não Ferrosos" com duas secções "Alumínios" e "Ligas de Cobre-Latões e Bronzes", utilizando a fusão em cadinhos aquecidos a carvão (coque) ou gasóleo.
Quem, dos mais velhos, não tem ainda no seu trem de cozinha peças de loiça de alumínio referenciadas no fundo com a marca "Alba"?
É natural que muitos não saibam que os corpos, em latão, de milhares de contadores de água que foram instalados no país nos anos cinquenta e sessenta, saíram de Albergaria-a-Velha.
O "Senhor Pereira" como ainda hoje é recordado por alguns dos seus colaboradores dos anos trinta, era exigente na qualidade e ensinava quem mostrava gosto pela profissão, sugerindo e dinamizando a busca de soluções técnicas convenientes, mais eficazes e mais económicas, soluções que deixavam a concorrência sem resposta.
Esta sua faceta transmitiu-a a muitos dos colaboradores que se transformaram em técnicos de grande nível, quer na concepção das ferramentas de moldação-chapas-moldes, caixas de machos, cárceas, etc - quer na sua execução em em madeira ou metal quer na qualidade das moldações e nas engenhosas soluções que estas, por vezes, exigiam.
O pessoal da Alba adquiriu prestígio e muitos debandaram outras paragens em particular Angola e Moçambique onde desenvolveram actividade em especial nas fundições da Companhia dos Caminhos de Ferro de Moçambique.
Em Angola, na cidade de Benguela, na fundição da "Lupral" (Sociedade da Lusalite e da Previdente) todo o pessoal de chefia era oriundo da Alba que também forneceu todas as ferramentas e toda a tecnologia e, com aquela empresa, estabeleceu um acordo de colaboração que garantia o apoio a toda a actividade relacionada com a fundição, levando a contactos regulares do pessoal em deslocações a Benguela e a Albergaria-a-Velha.
Deve-se referir a conquista de um dos seus maiores clientes, a "Lusalite", que ajudou a Alba a tranformar-se, ao tempo, no maior fabricante nacional de material complementar - uniões, válvulas, etc - para as linhas das redes distribuidoras de água domiciliária o que a projectou, anos mais tarde, para fornecer a outros clientes, acessórios como tês, curvas, válvulas de corrediça e de retenção, com diâmetros nominais de 600, 750 e ... 1000 e 1250 mm!
Foi este espírito de... sempre melhor e mais difícil,... que levou a Alba a ser uma das primeiras fundições portuguesas a produzir peças moldadas pelo método de "Carapaça"- (Shell Molding), e a primeira a produzir carcaças de alumínio para motores eléctricos, pelo processo de "vazamento em coquilha por gravidade".
A capacidade de resposta e a qualidade dos seus produtos (ficou famosa entre os fundidores a qualidade da "pele" das peças em ferro fundido) levou a que a Alba passasse a trabalhar para várias indústrias como: papeleira (pasta e papel), química, transportes ferroviários, motores eléctricos, bombas de rega, motores para motociclos, material de guerra, moageira, construção e reparação naval e outras.
O Senhor Pereira para os mais antigos, o Senhor Martins Pereira para os mais novos, o Senhor Comendador Martins Pereira para os seus concidadãos e amigos, durante quase 40 anos com o apoio dos seus filhos (Américo e Albérico), do neto que conheceu (António Augusto) e de muitos dedicados e competentes colaboradores, transformou uma fundição que se iniciou num modesto barracão, numa das mais prestigiadas fundições portuguesas.
Fonte: Eng. José António Piedade Laranjeira em Revista Fundição (Associação Portuguesa de Fundição) nº 2006 [republicado no Jornal de Albergaria de 19.05.1998] (adaptado)
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